Índio quer papel e caneta


O povo indígena, que em determinada época possuía uma língua ágrafa, transmitia sua cultura através da oralidade. A transmissão dos conhecimentos, crenças e costumes era toda feita através da língua falada. Isso se estendia para a narração de histórias, que era essencialmente oral. Ao fazer contato com o homem branco, índio aprende a escrever, e é através da língua escrita que podemos hoje ter acesso a toda a cultura indígena e o que é melhor, conhecer sua visão dos fatos, seu olhar para o mundo. Tudo isso porque índio agora não só escreve, mas é escritor.
Finalmente temos, no Brasil, literatura indígena, leia-se, literatura feita por índios. Antes, há muitos anos, tínhamos literatura indianista, histórias sobre os índios, cujo maior expoente foi José de Alencar, com seu O Guarani. Mas faz um certo tempo que um grupo de escritores indígenas vem fazendo barulho no cenário literário brasileiro. Dentre esses escritores destaca-se um nome, Eliane Potiguara. Mulher, índia e escritora. Representante de duas minorias, uma social e outra étnica, a escritora produziu bastante coisa de significativo para o mundo da literatura.
Além de escritora, é poetisa, contadora de histórias e professora formada em Letras. Criou a primeira organização de mulheres indígenas do país: Grumin (Grupo Mulher-Educação Indígena). Participou da elaboração da “Declaração Universal dos Direitos Indígenas”, na ONU em Genebra. Escreveu três livros: A terra é a mãe do índio (1989);Akajutibiró, terra do índio potiguara (1994) e o mais recente, Metade cara , metade máscara. Possui,além dessas obras,outros textos dispersados em jornais, sites e revistas. Foi indicada para receber o prêmio Nobel da Paz por sua luta pela causa indígena no ano de 2005. Criou o primeiro jornal indígena e fez vários boletins conscientizadores, além de uma cartilha de alfabetização indígena no método Paulo Freire com apoio da Unesco. Participa de várias conferências, palestras e encontros, tanto pela defesa do direito dos índios como pela sua produção literária. Eu mesma já assiti a uma de suas palestras na Univesidade do Estado do Rio de Janeiro no I Encontro de escritores indígenas no ano passado.Ufa, é muita tarefa para uma mulher só. E não é só isso.Tem muito mais coisa que Eliane vem fazendo por aí e que não caberia em um texto só. Enfim, uma mulher guerreira e revolucionária, como todos os índios e todas as mulheres. Uma ótima representante da nossa causa também!

Comentários

Adilene Adratt disse…
Nossa, muito legal ler seu texto e conhecer uma mulher tão forte. As mulheres quando querem podem revolucionar um mundo, uma cultura, uma história.
Bjs!
Hellen Taynan disse…
Muito pertinente a diferenciação entre literatura indígena e indianista tendo em vista que, embora muito bem escritas, as literaturas indianistas sempre foram recheadas de poesia, deixando de lado a realidade dos índios. Parabéns pelo blog. Gostei desde o cabeçalho até a postagem!
=)
Anna Oh! disse…
É indispensável que existam mulheres engajadas assim, dispostas a fazer diferente e a fazer a diferença nesse nosso país. Se ele é tão plural, pq não pode ser plural na literatura tb?

Bjusss
Anônimo disse…
Olá, vi o blog de voces no jornal Destak de hoje (10/09), meu nome é Desirée, e sou uma pseudo-escritora. Tenho algumas peças de teatro já escritas, duas já montadas e gosto de escrever contos, pequenos romances e poemas. Gostaria de parabenizá-las pela idéia, e se possível deem uma passadinha lá no meu blog!

Beijos.
Unknown disse…
Desculpe-me... embora eu considere-me bastante tímido, não resisti em aceitar o seu honrado convite para visitar este seu muito feminino e interessante blogue.
E na minha timidez, "arrisquei" deixar um modesto e muito sincero comentário a este seu relevante texto:
Normalmente a maioria de nós (homens), infelizmente tem o péssimo habito de apenas valorizar o sexo feminino tanto pelos seus atributos físicos como, pelo puro alimento libidinoso que alimenta a cada segundo a sua insaciável mente. No entanto, existe sempre as tais excepções à regra, ou seja homens que embora não sejam uns santos (tal com eu) mesmo assim, não sentem qualquer tipo de constrangimento ou pudor em admitir que a única diferença que existe entre homem e mulher está só e apenas na sua natureza física e sexual. E a confirma-lo nada melhor que olhar-mos este magnifico e louvável exemplo (entre outros milhões deles) desta verdadeira e ilustre mulher índia Eliane Potiguara. Parabéns a ela assim como a todas as mulheres que não se sentem nunca inferiorizadas pelo facto de assim terem nascido.
Bem... acho que já me alonguei demais, peço uma vez mais desculpas por esta minha tímida intromissão neste mundo fantástico (em todos os sentidos) das mulheres.

Mil poéticos beijinhos a todas vós em especial a você Raela Migliesi pelo seu magnifico trabalho aqui bem patenteado no seu blogue.
Bem-haja também pelo seu tão generoso comentário deixado em meu texto.
A.Soares (apollo_onze)